Angola
e Brasil: como é possível ambos terem tantas semelhanças e relações entre si? Dois países separados por um oceano,
nações que se localizam em continentes completamente diferentes: de um lado se
encontra a América do Sul e do outro a África. Países com perspectivas diferentes,
no qual um povo lança o olhar sobre o outro ficando inevitável notar as
similaridades. A resposta é simples, Angola e Brasil estão ligados
historicamente por um passado colonial, os dois povos foram colonizados por
Portugal e têm em “comum à semelhança cultural e a língua portuguesa”.
(BARBOSA, 2008). A cultura brasileira possui raízes no
continente africano, temos o exemplo na culinária da feijoada, do angu, do
azeite de dendê, entre outros; na linguagem, a palavra “samba” – que remete a
uma das danças típicas do Brasil – tem origem no termo “semba”, que significa
umbigo em quimbundo [1]; na
musica alguns instrumentos têm origem africana como o berimbau e o tambor. A
religiosidade também se insere nesse contexto,” o congado é uma manifestação
religiosa/cultural (...) que tem como fundamento a fé em Nossa Senhora do
Rosário e em outros santos protetores dos negros” (SANTOS, 2011).
Miss Universo 2012
angolana
Nos tempos atuais, com a globalização
- “processos que enfatizam a interdependência a nível mundial nos campos
econômicos, políticos e cultural” (SOBRAL, 2004) - e suas consequências
manifestadas pela mídia, tem-se mudado um pouco o olhar do mundo sobre o
continente africano, mostrando assim uma visão mais realista do continente. A Globalização será entendida como um
processo de aprofundamento e integração econômica, social, cultural e política, que permite a comunicação dos países do mundo e um grande aumento das tecnologias
de informação, originando assim forte intensificação de comunicação
intercultural entre os mais diversos países (ESCARIÃO, 2006) e no presente
caso, Angola e Brasil.
Falar sobre globalização não implica somente
falar de informação, mas também sobre a mídia e o seu papel enquanto agente de
difusão e promoção de encontros culturais. Dessa forma podemos afirmar que
existe um encontro cultural entre Angola e Brasil, sendo que desse encontro
resultam choques, em função da aceitação e ou negação de valores, hábitos e
costumes, estranhos ao angolano. Estranho, adota aqui o sentido de diferente,
pelo que acrescentamos que embora haja essa proximidade entre os países, muito
se desconhece, e inúmeras são as diferenças. A
“África” está deixando de ser apontada única e exclusivamente como foco de
problemas sociais, políticos, étnicos e econômicos para ser vista como um
continente que tem potencial em vários aspectos, sendo o mais importante, o de
um mercado a ser atingido. Com base no
exposto, ”é notória a audiência das telenovelas brasileiras nos países
africanos, sobretudo nos países de Língua Portuguesa” (BARBOSA, 2008, p.8). Muitas
têm sido as emissoras de TV, que tem instalado centrais de produção em
territórios africanos, com o objetivo, o explícito objetivo de difundir a
informação. Após análise cuidada, também se percebe que de modo concomitante,
são alterados padrões de vida, hábitos e costumes, dentre outros.
O
Brasil tem inserido-se cada vez mais perante a sociedade angolana. A televisão
brasileira tem sido um forte instrumento de influências, levando um pouco do
Brasil para Angola. Em Angola contamos com duas grandes emissoras brasileiras:
a Rede Globo Internacional e a Rede Record,” a República de Angola tem
aproximadamente 12.500.000 habitantes e a Província de Luanda conta com cerca
de quatro milhões de pessoas. Grande parte da população tem acesso á
programação da Rede Globo Internacional, captada via antena parabólica”
(BARBOSA, 2008). Com a transmissão dos programas
brasileiros e principalmente as telenovelas, a sociedade angolana tem se
espelhado cada vez mais na cultura brasileira. O questionamento sobre a
influência do Brasil em Angola surge da necessidade de compreender como países
historicamente próximos e ao mesmo tempo, geograficamente longínquos, possuem
tanta semelhança entre si.
No caso de Angola e do Brasil, a
comunicação torna-se mais viável por compartilharem o mesmo idioma, facilitando
assim este contato intercultural. Partindo dessa premissa, julgamos que a
“influência brasileira em angola hoje, se dá pela telenovela porque é o produto
mais consumido” (PAULO, citado por BARBOSA, 2008), sendo tal influência
facilmente perceptível na linguagem falada, nas vestimentas e na própria
inserção social. Outros traços que denotam a referida influência dizem respeito
à mobilização das pessoas em torno das novelas, fato que obrigou as emissoras
de televisão a apostarem cada vez mais no mercado angolano. A grande interação promovida pela
mídia, fez com que Angola e Brasil, se aproximassem a velocidade do “clique”,
promovendo assim, o surgimento da comunicação intercultural e subsequente
assimilação de hábitos, costumes e releitura cultural. Os programas brasileiros têm grande
audiência em Angola, temos o exemplo das telenovelas, futebol, carnaval, dentre
outros, que além de recriarem, tem estado a promover tendências em termos de
moda. (BARBOSA, 2008).
Os Angolanos,
sobretudo os jovens, se interessas pelo Brasil, seus costumes, hábitos, tradições, crenças e
estilos de vida e em maioria acabam adquirindo ou adotando certas condutas e posturas “(... )A telenovela não tem
como prioridade educar, contudo sabemos que possui grande influência no
comportamento dos seus telespectadores. Os usos, costumes, e situações
vivenciadas na telenovela, com muita frequência saem da ficção e ganham espaço
na realidade. É assim com a moda, com o vocabulário” (BARBOSA, 2008). O aspecto
acima exposto remete a ideia que a “ televisão tem exportado a cultura
brasileira para os angolanos como também tem sido um instrumento de controle de
opnião pública e de influencia a mentalidade do povo que quanto menos
esclarecido mais influencia recebe da mesma” (ABEL,2009)
Sem pretender colocar juízo de valor,
julgamos que é muito bom conhecer novas culturas, conhecer outros pontos de
vista, mas é imprescindível ter cuidado para não supervalorizar os hábitos
culturais de outrem e esquecermo-nos dos nossos. A
ideia anterior pode ser melhor entendida se pensarmos em alguns comportamentos
transmitidos pela TV, o comportamento dos jovens, principalmente. Concordo com
Luciene Cecilia quando expõe que “ (...) a relação entre pais e filhos no
Brasil é muito permissiva, algumas vezes desrespeitosa. Isso vai contra os
princípios da tradição africana, uma vez que uma das primeiras regras é o
respeito pelos, mas velhos, coisa que ultimamente tem se perdido na nossa
cultura ocidental”, (Ana e Monica, citadas por BARBOSA, 2008). Em Angola, em função da forte presença da
tradição, este comportamento é censurado.
Jovens angolanos dançando Kuduro
O que esperamos da
sociedade angolana é que não incorpore demais a cultura brasileira e que não
deixe de lado as suas raízes, os seus traços culturais e os seus costumes. Em
meio a tantas diferenças e semelhanças percebemos que Angola e Brasil conseguem
se unir em vários aspectos, levando assim enriquecimento e diversidade cultural
a ambos.
Companheira Adalgisa Gizela Barroso Pereira,
angolana, estudante de direito da Universidade Federal de Juiz de Fora.
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