“- Juiz de Fora, 27 de outubro de 2013. Juiz de Fora,
27 de outubro de 2013. Juiz de Fora, 27 de outubro de 2013...” Repeti isso, no
mínimo, umas doze vezes enquanto escrevia este post. Como é difícil acreditar
que estamos no fim do ano de 2013 e ainda nos deparamos com pensamentos e
preconceitos do início do século passado. Acho que, na verdade, a intolerância
que vejo vem desde a época da Idade Média. Talvez, Deus realmente tenha tirado
férias nessa época e deixou a parada rolar para ver no que dava.
Uma das coisas
que tem dado muita repercussão, apesar de não estar sendo tão noticiada na
mídia como antes, é o projeto do nosso ilustríssimo Sr deputado Marcos
Feliciano (esse ainda não sabe o que um parlamentar faz, diferentemente do
Tiririca, que parece ter aprendido) denominado “Cura Gay”. Tentei pesquisar
para saber do que se tratava a proposta, mas o que encontrei foram informações
desencontradas e controversas, o que dificultou e muito a minha pesquisa. Mas,
pelo pouco que estudei, o espanto ao saber (ou por confirmar o que eu recusava
a acreditar) que ainda exista alguém que tenha pensamentos tão arcaicos quanto
os que eu li me causou pena. Pior é imaginar que ele representa a ideologia de
vários eleitores, que, provavelmente, apertam o botão verde da urna eletrônica
acreditando ser a válvula de descarga de um vaso sanitário.
Como é que alguém tem a coragem de apresentar projetos
daqueles para 200 milhões de brasileiros? Permita-me fazer um básico
sensacionalismo: 200 000 000 de b r a s i l e i r o s! Só o título de um deles
já é algo inacreditável: “cura”! Não apenas o projeto da Cura Gay causa
espanto, pior é ler as outras propostas, de temas diversos, de outros
parlamentares, INDEPENDENTE do partido. A solução seria toda a população
brasileira converter-se para uma determinada religião ou partido x ou y? Pelo
que eu li, sim. Como queremos um tratamento igualitário perante a lei, se quem
a elabora acredita existir pessoas melhores que outras, culturas superiores e
ideologias “salvadoras”?
Em seguida, recordo-me do projeto de trazer médicos de
outras nacionalidades para trabalhar em nosso país. Na verdade, ele já esta
acontecendo. A ideia de que a solução cairá de paraquedas também parece
perdurar em pleno ano de 2013! Os médicos estrangeiros fazem um curso de
qualidade qualquer, fazem umas aulas em terras Tupiniquins e uma prova estilo teste
da revista Capricho para vir trabalhar atendendo nosso maior bem: a população
brasileira. Seriam os médicos brasileiros vilões ou mocinhos por recusar a
vinda daqueles profissionais para cá?
Hospital sem material básico para o atendimento de
pacientes, postos de saúde sem água, falta de segurança no trabalho fora a
falta de informação da população acerca da funcionalidade de cada instituto.
Pacientes superlotam as UPA’s quando poderiam ser atendidas em postos de saúdes,
vão a hospitais de emergência quando as UPA’s estão preparadas para atender
aquele tipo de caso, tratam mal os funcionários que trabalham em stress
absoluto...
O sistema é ruim, não há o que discutir. Mas a população não
respeita o próximo quando vai à procura de atendimento somente para conseguir
um atestado. Fazendo isso, além de lotarem desnecessariamente as clínicas,
estão retardando os atendimentos de pessoas que realmente necessitam serem
atendidas.
O mundo melhorará quando você começar a tratar a pessoa
do seu lado como ser humano. Soluções
não caíram de paraquedas, políticos não mudarão se antes você não mudar.
Devemos aproveitar mais da sorte que temos de vivermos em um país onde somos
livres para expressarmos o que pensamos. Não foi isso que fizemos em junho? E o
que aprendemos com aquelas manifestações? Acho que o gigante não acordou, já
que é melhor que ele esteja alienado ou “bestializado”, como já foi denominado
em outro contexto histórico. Afinal de contas, ele se encontra em coma induzido
por quem tem interesses pessoais a defender.